Mercado de Café Brasileiro Sob Pressão: Geadas Elevam Preços e Tarifas dos EUA Ameaçam Exportações

O setor cafeeiro do Brasil enfrenta um período de forte turbulência, impactado por uma combinação de fatores climáticos internos e tensões comerciais externas. Enquanto geadas recentes impulsionam os preços futuros, a imposição de novas tarifas pelos Estados Unidos cria um cenário de incerteza e prejuízo para produtores e exportadores nacionais.

Preços Disparam com Geadas e Queda na Oferta

O mercado futuro de café reagiu com força nesta semana. Na quarta-feira, os contratos futuros registraram altas expressivas, com o café Arábica na bolsa de Nova York subindo 1,4%, atingindo 319,60 centavos de dólar. Em Londres, o café Robusta teve uma valorização ainda mais acentuada, de 4,7%, fechando em $3.799 por tonelada.

O principal motor para a alta do Arábica foi a notícia de geadas de intensidade leve que atingiram áreas cruciais do cinturão cafeeiro brasileiro. Relatos da StoneX confirmam o fenômeno em municípios de Minas Gerais, como Patrocínio, Uberaba, Sacramento e Passos, além de áreas no Cerrado Mineiro (Araguari, Monte Carmelo, Campos Altos) e na Alta Mogiana.

No caso do Robusta, a alta é justificada pela queda nas exportações do Conilon brasileiro, conforme dados do Cecafé, e pela menor disponibilidade do grão no Vietnã e na Indonésia. No Vietnã, a nova safra ainda levará meses para começar, enquanto na Indonésia, as chuvas estão prejudicando a colheita.

Safra de Arábica Decepciona e Clima Preocupa

A situação climática no Brasil já vinha fragilizando a produção antes mesmo das geadas. Um relatório do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) confirma que a colheita da safra de Arábica está em sua fase final na maioria das regiões produtoras, mas os resultados são decepcionantes. Segundo os pesquisadores, o rendimento está abaixo do esperado, um reflexo direto do baixo volume de chuvas e das altas temperaturas durante o outono e inverno de 2024. A situação foi agravada por um período de seca entre meados de fevereiro e meados de março. Diante desse cenário, analistas consultados pelo Cepea acreditam que os números oficiais da produção brasileira para este ano deverão ser revisados para baixo nos próximos meses.

Tarifas Americanas Geram Impasse e Adiamento de Embarques

Somando-se aos desafios climáticos, uma nova barreira comercial agrava a situação. Há duas semanas, o governo dos Estados Unidos implementou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, e os efeitos já são sentidos no setor de café. Compradores americanos estão solicitando o adiamento de embarques de café brasileiro.

De acordo com o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), a estratégia dos importadores dos EUA é aguardar um possível acordo comercial entre os dois países que possa reverter ou reduzir a tarifa, barateando o custo final da importação. O presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, informou à agência Reuters que os compradores americanos possuem estoque suficiente para esperar por 30 a 60 dias.

Prejuízos Imediatos para Produtores e Exportadores

Mesmo um simples adiamento nos embarques resulta em perdas financeiras significativas para o lado brasileiro. Os exportadores que operam com Contratos de Adiantamento de Câmbio (ACC) — um mecanismo de financiamento pré-embarque — já começam a arcar com juros acumulados e custos operacionais adicionais.

Para os produtores, o prejuízo vem do chamado “mercado futuro invertido”, onde os contratos com prazos mais distantes se desvalorizam em relação aos mais próximos. Estima-se que um adiamento de dois meses em um embarque possa gerar uma perda de cerca de $10 por saca de café. Esse cenário é ainda mais preocupante considerando que, mesmo antes das tarifas, as exportações totais de café verde do Brasil em julho já haviam caído 28,1% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Perspectivas e Contexto Global

Enquanto o Brasil lida com seus desafios internos e com a pressão americana, o mercado global observa outros fatores. Um relatório da I. & M. Smith aponta para a possibilidade de uma temporada de tempestades mais intensa no Atlântico, o que, paradoxalmente, poderia trazer chuvas benéficas para a próxima safra na América Central, cujos produtores iniciam a colheita em outubro. Sem um acordo comercial à vista e com um cenário climático volátil, o futuro próximo do café brasileiro permanece incerto, com os desdobramentos desta complexa situação sendo definidos em tempo real.

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